24 de agosto de 2015

Como mudar o mundo

“Seja a mudança que quer ver no mundo”.
Esta conhecida frase de Gandhi resume o livro “Como mudar o mundo”, de John-Paul Flintoff.

A tese central de Flintoff é de que não são apenas os grandes acontecimentos que mudam o mundo ou aqueles que são protagonizados pelos grandes homens: inúmeras mudanças são provocadas por pequenos gestos e até de formas aparentemente insignificantes.
De forma muito prática, “todas as nossas acções são decisivas e todas produzem efeitos.” Tomar consciência deste facto ajuda a ultrapassar o espírito derrotista e a ideia de inutilidade da acção de cada um. “Na vida real também temos a capacidade de abandonar o nosso papel habitual e fazer outra coisa; contudo, muitas vezes esquecemo-nos disso – se é que temos consciência dessa capacidade.” E tudo é uma escolha nossa, mesmo a obediência ou a submissão ao outro. O exemplo dado é dos indianos liderados por Gandhi: “No momento em que um escravo decide que deixará de ser escravo, as suas grilhetas desprendem-se. Liberta-se e revela o caminho aos outros. Liberdade e escravatura são estados mentais.”

Outro exemplo que é dado é o seguinte: quando “músicos alemães iludiram a proibição de tocar jazz americano inventando nomes germânicos para as músicas de que gostavam.” Um acto de subversão insignificante, contudo libertador e inspirador.
Descendo ao concreto, as acções de mudanças empreendidas por cada um têm de ter ligação com aquilo que o move, com os seus valores. A importância de um significado é relevante para o que se pretende fazer. Citando Nietzsche, “Aquele que tem uma razão para viver, consegue suportar quase tudo”. São essas razões que constituem o combustível da acção: “Não nos sentiremos motivados para mudar o mundo se o facto de o fazermos ameaçar tornar-se numa obrigação entediante – mas se conseguirmos encontrar formas de levar a cabo essa mudança, formas de que estejam relacionadas com as coisas de que mais gostamos na vida, é mais provável que persistamos.”

O autor apresenta de seguida algumas ideias sobre estratégias. Mas antes importa definir um problema específico: “se não soubermos exactamente o que pretendemos melhorar, seremos incapazes de o fazer.” É o princípio do pensar global, agir local.

Prestar testemunho, falar sobre o que nos move ou pretendemos mudar, de forma positiva, ajuda a congregar os outros na causa ou questão a mudar. O exemplo das alterações climáticas, apresentadas muitas vezes como uma inevitabilidade, desmobiliza as pessoas de fazerem mudanças. Daí a importância de dar esperança: “o elemento-chave é não tornar o desespero convincente, mas sim a esperança possível.”

Além dos aliados e recursos físicos, é necessário ter em conta as qualidades pessoais como experiência, competências, resistência física e mental.

Depois de tudo isto equacionado, é necessário dar o primeiro passo. O primeiro gesto pode ser o catalisador de muita coisa: “todos os avanços ocorreram porque alguém decidiu fazer alguma inovação. As ‘acções’ dessa primeira pessoa ‘permitiram’ aos outros fazerem, pelo menos, aquilo que já antes haviam tido vontade de fazer.” 
Exemplos disto são os seguintes:
- Rosa Parks, que não se levantou num autocarro para ceder lugar a um passageiro branco, e assim iniciou uma campanha pelo reconhecimento de direitos civis aos negros americanos;
- um homem que começa a dançar sozinho, num festival de música no Canadá. Em volta, todos ficam a olhar, até que outro rapaz decide juntar-se, e outro e outros… e em poucos minutos estava uma multidão a dançar.

Foram apenas duas pessoas com gestos diferentes, e que geraram mudança.


Muitos outros exemplos e questões práticas são deixados ao longo do livro.

Este pequeno livro, com um perfil prático, mostra como é possível fazer a diferença com pequenos gestos, em cada circunstância, em todos os locais. Não é necessário começar por algo grandioso.

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Referências
Autor: John-Paul Flintoff
Editora: Lua de Papel

O que tem Steve Jobs

Só alguém com as características pessoais de Steve Jobs conseguiria criar uma empresa como a Apple e, ao longo de alguns anos, introduzir mudanças significativas em várias indústrias como “os computadores pessoais, o cinema de animação, a música, os telefones, a computação tablet, e a edição digital”, e até nas lojas de venda a retalho. E fez tudo isto com um aspecto distintivo: a sua intensidade.
Após a leitura da sua biografia (escrita por Walter Isaacson a seu pedido), há alguns aspectos que julgo serem relevantes para o sucesso que alcançou.

1.      constituição e funcionamento de equipas.
Jobs entendia que só pessoas de primeira podiam criar equipas de primeira. A sua visão binária da realidade (quer dizer, ou é bom ou é péssimo; ou é um génio ou um estúpido) levava-o a aplicar essa dualidade a tudo, inclusive às equipas de trabalho e pessoas que contratava. Assim, conseguiu levar para a Apple pessoas de primeira que lhe permitiram criar equipas de primeira e desenvolver produtos de alta qualidade.
Por outro lado, para Steve Jobs os vários departamentos da Apple tinham de trabalhar interligados e sinergicamente. Não aceitava a competição entre sectores da empresa, e os problemas tinham de ser resolvidos em conjunto. Desta forma, havia visões diversas sobre cada problema e uma resolução mais eficaz. “Jobs não organizou a Apple em divisões semiautomáticas, ele controlava de forma rigorosa todas as suas equipas e forçava-as a trabalharem como uma empresa coesa e flexível, como o mesmo objectivo em termos de resultados.”
Um último aspecto sobre as equipas: semanalmente havia reuniões onde eram discutidos vários assuntos e os próprios produtos a desenvolver. A sua filosofia proibia apresentações em powerpoint, pois, segundo ele, “se precisas de slides é porque não conheces aquilo de que estás a falar.” O brainstorming era incentivado, mesmo quando Jobs demolia alguma ideia apresentada ou quem a propunha.
Esta combinação dava origem a melhores ideias e melhores produtos.

2.      foco em poucos produtos e de qualidade.
“Decidir o que não fazer é tão importante como decidir o que fazer”, afirmou. “Isso aplica-se às empresas e aplica-se aos produtos.” Foi “esta capacidade de concentração [que] salvou a Apple”.
Esta forma de funcionamento permitia a criação de produtos de qualidade e impedia a dispersão de energias do grupo.
Paralelamente, Steve Jobs sempre defendeu um controlo absoluto do fabrico do produto de extremo-a-extremo. Ou seja, não havia outros intervenientes e, após a venda, ninguém podia modificar os programas ou produtos. Isso levou-o a ter várias polémicas com quem defendia softwares e hardwares abertos. Quase caricaturalmente, a Apple criou parafusos próprios para os seus equipamentos, de forma a não poderem ser abertos e modificados em lojas de reparações.
A qualidade era um aspecto central nos produtos desenvolvidos, e era tida em conta tanto no exterior como no interior dos equipamentos. A organização e beleza tinha de ser evidente também nos componentes internos dos dispositivos.
O perfeccionismo era a sua marca. Basta recordar que, no início, esteve várias semanas para decidir o grau de curvatura de uma embalagem para computador…

O cliente que adquire um produto Apple, adquire uma experiência completa.
Steve Jobs entendia que a missão da Apple era antecipar aquilo que os clientes vão querer. O seu sucesso está também patente nessa capacidade de antecipação.



Haveria certamente muitos outros aspectos a destacar em Steve Jobs e que estão no caminho do seu sucesso, mas julgo que o foco em apenas dois é suficiente para evidenciar aquilo que o distingue: equipas de primeira e produtos de primeira.

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Referências
Livro: Steve Jobs
Autor: Walter Isaacson
Editora: Objectiva

16 de agosto de 2015