“Seja a mudança que quer ver no mundo”.
Esta conhecida frase de Gandhi
resume o livro “Como mudar o mundo”, de John-Paul Flintoff.
A tese central de Flintoff é de
que não são apenas os grandes acontecimentos que mudam o mundo ou aqueles que
são protagonizados pelos grandes homens: inúmeras mudanças são provocadas por
pequenos gestos e até de formas aparentemente insignificantes.
De forma muito prática, “todas as
nossas acções são decisivas e todas produzem efeitos.” Tomar consciência deste
facto ajuda a ultrapassar o espírito derrotista e a ideia de inutilidade da
acção de cada um. “Na vida real também temos a capacidade de abandonar o nosso
papel habitual e fazer outra coisa; contudo, muitas vezes esquecemo-nos disso –
se é que temos consciência dessa capacidade.” E tudo é uma escolha nossa, mesmo
a obediência ou a submissão ao outro. O exemplo dado é dos indianos liderados
por Gandhi: “No momento em que um escravo decide que deixará de ser escravo, as
suas grilhetas desprendem-se. Liberta-se e revela o caminho aos outros.
Liberdade e escravatura são estados mentais.”
Outro exemplo que é dado é o
seguinte: quando “músicos alemães iludiram a proibição de tocar jazz americano
inventando nomes germânicos para as músicas de que gostavam.” Um acto de
subversão insignificante, contudo libertador e inspirador.
Descendo ao concreto, as acções
de mudanças empreendidas por cada um têm de ter ligação com aquilo que o move,
com os seus valores. A importância de um significado é relevante para o que se
pretende fazer. Citando Nietzsche, “Aquele que tem uma razão para viver,
consegue suportar quase tudo”. São essas razões que constituem o combustível da
acção: “Não nos sentiremos motivados para mudar o mundo se o facto de o
fazermos ameaçar tornar-se numa obrigação entediante – mas se conseguirmos
encontrar formas de levar a cabo essa mudança, formas de que estejam
relacionadas com as coisas de que mais gostamos na vida, é mais provável que
persistamos.”
O autor apresenta de seguida
algumas ideias sobre estratégias. Mas antes importa definir um problema
específico: “se não soubermos exactamente o que pretendemos melhorar, seremos
incapazes de o fazer.” É o princípio do pensar global, agir local.
Prestar testemunho, falar sobre o
que nos move ou pretendemos mudar, de forma positiva, ajuda a congregar os
outros na causa ou questão a mudar. O exemplo das alterações climáticas,
apresentadas muitas vezes como uma inevitabilidade, desmobiliza as pessoas de
fazerem mudanças. Daí a importância de dar esperança: “o elemento-chave é não
tornar o desespero convincente, mas sim a esperança possível.”
Além dos aliados e recursos
físicos, é necessário ter em conta as qualidades pessoais como experiência,
competências, resistência física e mental.
Depois de tudo isto equacionado,
é necessário dar o primeiro passo. O primeiro gesto pode ser o catalisador de
muita coisa: “todos os avanços ocorreram porque alguém decidiu fazer alguma
inovação. As ‘acções’ dessa primeira pessoa ‘permitiram’ aos outros fazerem,
pelo menos, aquilo que já antes haviam tido vontade de fazer.”
Exemplos disto
são os seguintes:
- Rosa Parks, que não se levantou
num autocarro para ceder lugar a um passageiro branco, e assim iniciou uma
campanha pelo reconhecimento de direitos civis aos negros americanos;
- um homem que começa a dançar
sozinho, num festival de música no Canadá. Em volta, todos ficam a olhar, até
que outro rapaz decide juntar-se, e outro e outros… e em poucos minutos estava
uma multidão a dançar.
Foram apenas duas pessoas com
gestos diferentes, e que geraram mudança.
Muitos outros exemplos e questões práticas são deixados ao longo do livro.
Este pequeno livro, com um perfil
prático, mostra como é possível fazer a diferença com pequenos gestos, em cada
circunstância, em todos os locais. Não é necessário começar por algo grandioso.
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Referências
Livro: Como mudar o mundo
Autor: John-Paul Flintoff
Editora: Lua de Papel